segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

ANO NOVO, VIDA NOVA

Acho que este título nunca fez tanto sentido como agora.

Grandes mudanças na nossa vida, na vida da Nô. Também eu mudei de escola quando era pequena, mais pequena que ela e, ainda por cima, para uma ilha longe do Continente.
Tinha 6 anos e fui para a ilha da Madeira a meio da 1ª classe. Foi a melhor experiência da minha vida. Até hoje relembro esses tempos com muita saudade. Continua a ser a minha 2ª casa. Quando lá cheguei era a menina de Lisboa, quando regressei a casa era a Madeirense. Acabei por nunca perceber afinal quem sou porque as duas Anas se fundiram. A Madeira nunca saiu de mim e ainda hoje recordo aquele nervoso miudinho de mudar de cidade, de casa, de escola, de amigos, com um carinho muito especial. Sempre que posso volto lá e mantive até há uns anos contacto regular com a minha professora primária, a D. Glória.

Hoje a Nô começou uma etapa numa escolinha nova. Vamos mudar brevemente para Lisboa e esta mudança era inevitável. Apesar de sempre ter vivido na Margem Sul, sou uma lisboeta de gema e sempre tive uma ligação muito grande a esta cidade, uma vez que o meu Pai é de Alvalade. Quando estive na faculdade cheguei a viver com a minha avó paterna e, já na altura, me sentia bem em Lisboa. É a minha cidade. Nasci em Lisboa, conheço a cidade desde sempre mas tudo me prendia à minha Margem Sul. O conforto da casa dos pais, os amigos, a escola, o campo ali perto, a qualidade de vida que sempre achei não ser possível em Lisboa. A calma, a sirene dos bombeiros ao meio-dia, o Clube Desportivo Pinhalnovense onde pratiquei ginástica, O Pátio da Vila onde me encontro com os meus amigos, enfim... toda uma vida.

Mas chegou a altura de mudar. Lisboa espera-nos. Uma nova vida, uma aventura que é tão necessária para o nosso descanso mental, ter a Nô mais perto, estar mais perto da minha rádio, não fazer milhentos quilómetros com o carro, não andar sempre a correr de um lado para o outro. Preciso disso. Só que não foi uma decisão tomada de ânimo leve. É uma mudança muito grande. Deixar tudo para trás, a minha casa que escolhi com tanto carinho, que comprei depois de lutar muito por ela mas que fica bem entregue. Sempre ouvi dizer que a nossa casa é onde o nosso coração está. E o meu coração vai passar a estar em Lisboa, bem no centro.

Tudo isto para dizer que há mudanças que são necessárias mas que nos deixam com o coração nas mãos. 
Esta noite ninguém dormiu lá em casa. Há dois meses que a Nô anda a acumular uma tensão desgraçada, que anda nervosa, que não pára de falar na mudança, que tem pena de deixar as amigas, que tem medo de não se adaptar à escola nova, à professora e aos colegas.... e eu sinto-me culpada, não consigo evitar. Sinto-me culpada por estar a provocar-lhe esta ansiedade toda que esta noite resultou num ataque de choro mas sei que vai correr bem . Ela é uma menina forte, determinada, que faz amizades com facilidade e que se integra bem. O medo do desconhecido é perfeitamente normal, eu sei. Todos nós temos esse medo mas é inevitável não me sentir culpada. Tento pensar que tudo isto é pelo melhor e que muito brevemente ela vai estar perfeitamente integrada, que vai amar os novos colegas e que vai deixando de sentir falta do que deixou para trás. A nossa Margem Sul será sempre a nossa Margem Sul mas nos próximos tempos vamos ter de separar-nos.

Filhota vai tudo correr bem ;)


Arrojinha*